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Com as mãos ainda trêmulas, Cory olhava para o convite em choque. Sabia que as alucinações haviam ido longe demais daquela vez, e que tinha que fazer algo a respeito. Mas as únicas pessoas em quem confidenciaria aquele tipo de coisa não estavam mais ali. Seu coração estava partido no meio; uma metade respirava aliviada por entender que toda a sua conversa com Skye no telefone não havia acontecido de fato, e a outra metade estava de luto pela notícia que acabara de ler.
Seria aquilo também uma parte da alucinação? Estaria mesmo segurando o convite para o funeral de Isaac em suas mãos?
Simon. O nome do seu filho veio como um soco através das memórias quebradiças. Em uma tentativa de reafirmar que tudo aquilo não havia sido real, voltou para a garagem e achou o celular no chão. Seu histórico de ligações não acusava nenhum contato recente de Skye. A data na tela, porém, chamou-lhe a atenção: dezoito de Setembro. A festa havia acontecido há seis dias. Não era a primeira vez que vivenciava perda de tempo, mas aquela havia sido a maior até então. Teria dormido por seis dias seguidos?
Súbito, como se a realização moldasse a realidade, sentiu fome, e a garganta queimou. Bebeu dois copos de água da torneira. Na geladeira, desligada pela falta de luz, a maior parte da comida havia estragado. Encontrou um pacote de salgados ainda fechado no armário e o devorou, empurrando tudo para baixo com mais água.
Seis dias. Certamente deveria estar morto agora. Não conseguia pensar em uma explicação, mas já há algum tempo não conseguia explicar muito do que acontecia em sua vida.
Cory vestiu a jaqueta e pegou o capacete. As feridas nos punhos já criavam cascas. Olhou-se no espelho: hematomas e cortes, e uma expressão sombria. Montou na moto e buscou por Bishopstone no celular. Parecia a única coisa a ser feita agora, como se estivesse sentado na arquibancada e assistisse a sua vida ser ditada por um convite e um traço de esperança. Sentiu o peito apertar mas as lágrimas não vieram.
Com um pisão a moto roncou, e ele acelerou.