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Floresta assustador

XI

    Sentados em bancos de metal no baú da van, Finnegan, George e outros quatro agentes sacudiam com cada desnível na estrada. Fazia alguns minutos que haviam abandonado a rodovia, e agora seguiam por uma estrada de terra, subindo a encosta da montanha por um caminho serpenteante. Todos os membros da força-tarefa revisavam seus equipamentos: pistolas, coletes a prova de balas, munição, equipamento de observação. Não carregavam armamento pesado. O objetivo naquela manhã era coletar informações e estabelecer um plano de ataque; ou recolher evidências o suficiente para conseguir um aval do MI6 para conseguir uma unidade de invasão tática.

  Samantha, a chefe de comunicações da operação, abriu a portinhola do assento de passageiros.

  "Dez minutos, meninos"

  O tempo passou rápido. A van saltitou vigorosamente: estavam agora fora da estrada, e mesmo que a motorista mal pisasse no acelerador, o solo era desnivelado de tal forma que todos tiveram que se segurar em seus bancos. Aquilo não durou muito. Assim que o automóvel freou, ouviram o som da abertura da tranca da porta traseira, e Finnegan foi o primeiro a saltar para fora.
  Os coturnos encontraram solo macio. O outono mal havia começado, mas algumas árvores já se despiam, formando um tapete fino de folhas no chão. Os outros cinco agentes saltaram para fora da van, alguns admirando a brisa e o ar puro. Logo adiante, a cinquenta metros dali, atrás da folhagem, a estrada de terra continuava. Karen, a motorista, havia encontrado um bom lugar para esconder o veículo.

  George reuniu todos em um círculo. Puxando o GPS, traçou o caminho até então: uma hora atrás haviam entrado por Box Hill, seguindo uma estrada asfaltada e levemente inclinada, sempre os levando para cima. Agora encontravam-se em um vale entre montanhas cujos nomes Finnegan desconhecia. O mapa no aparelho exibia um pin vermelho que indicava a última localização de Milena, fornecida por Tanya. Havia outros três pins em um raio de cinco quilômetros dali: três mansões propositalmente construídas em isolamento, entre montanhas esquecidas, para que bilionários pudessem aproveitar o anonimato. Um deles, o pin marcado de amarelo, indicava uma mansão a um quilômetro e meio dali. Era uma construção centenária, opulenta, e que havia sido comprada há sete anos por uma empresa ligada aos Filhos do Ancestral. Era lá onde apostavam suas fichas.

  Todos sabiam de suas instruções, mas George fez questão de revisá-las em um minuto: Karen e Samantha permaneceriam na van, monitorando os arredores e acompanhando-os pelo feed de video e som. Os outros seis dividiriam-se em duplas: Nick e Scott seguiriam para a entrada traseira da mansão, enquanto Lucas e Anton iriam para a entrada frontal. George e Finnegan subiriam uma elevação próxima para analisar a propriedade de um ângulo mais favorável.

  "Lembre-se: estamos coletando evidências. Eu quero fotos e videos. A prioridade é não sermos vistos. Não assumam riscos desnecessários, e notifiquem o grupo de qualquer atividade suspeita. Se não se sentirem seguros, recuem. Eu quero sair daqui com o meu time inteiro e com um mandato garantido, e sem ter que preencher nenhum formulário de disparo, entenderam?"

  O grupo concordou. Dispersaram, cada dupla seguindo em uma direção diferente.

  A caminhada silenciosa até o topo da elevação lembrou Finnegan das caminhadas matinais no exército irlandês, e todos os treinos de marcha forçada cercado por amigos e pessoas de confiança. Ele e George não vestiam camuflagem naquela manhã, mas a dinâmica entre os dois era idêntica à que tinha com seus companheiros de exército: caminhavam atentos e silenciosos, e trocavam informações em voz baixa, falando apenas o que era relevante para alcançarem o objetivo de forma mais eficiente. Momentos como aquele davam a ele algo em que focar. Finnegan sabia que, por algumas horas, todos os problemas da sua vida desapareceriam, relegados ao segundo plano.

  Alcançaram o ponto de observação no tempo esperado, antes dos outros agentes alcançarem as suas posições. Encontraram uma área com vegetação rasteira e se deitaram. George monitorava o time pelo GPS, então Finnegan foi quem pegou o binóculo. Sua experiência com aquele tipo de trabalho de reconhecimento o levou a buscar imediatamente pelos detalhes mais relevantes.  Atualizou o time com o que via em tempo real.

  "Guarita no portão da frente. Muitos carros estacionados, a maioria de luxo. Parecem civis. Ninguém na frente. Duas câmeras no portão frontal, cobrindo ao menos cento e vinte graus"

  O time confirmou. Ele prosseguiu:

  "Entrada de serviço nos fundos. Câmera no portão, olhando para Sudeste. Há um jardim, mas não vejo ninguém. Porta dos fundos com uma única câmera pegando um ângulo amplo do jardim".

  O time confirmou novamente. Tendo coberto os pontos mais urgentes, Finnegan passou a vasculhar o resto do lugar, e a falar com George ao seu lado, sem ligar a comunicação por rádio, falando pela primeira vez naquele dia em tom mais informal.

  "O lugar está vazio"

  "Como assim vazio? E os carros estacionados?

  "Eu sei, mas não tem ninguém em nenhuma janela. Nenhum guarda. Nenhum riquinho esnobe andando pelo jardim. Espera. Tem alguém na porta da frente"

  "Guarda?"

  A entrada principal da mansão era digna de filmes de época. Uma fonte de água feita em mármore branco adornava a passagem de carros. Poucos metros adiante, um pequeno lance de escadas ladeado por pilares no estilo grego terminava em uma volumosa porta dupla de madeira maciça. Uma das bandas da porta estava entreaberta. O corpo de um homem se projetava para fora, no chão, com o braço estendido adiante como se tentasse escapar do lugar, congelado no tempo.

  "Finnegan?"

  "Ele está morto"

  "Quem?"

  Finnegan passou o binóculo para o amigo. George soltou um grunhido ao avistar a cena. A folhagem da floresta farfalhava incessantemente com a brisa. No rádio, os agentes confirmaram suas posições e iniciavam o trabalho. George e Finnegan não precisavam trocar palavras para endereçarem a pergunta que pairava no ar. Os dois segundos que George levou para tomar alguma ação se arrastaram. Ele pegou o rádio.

  "Mudança de postura. Preparem-se para ambiente hostil. Possível homicídio. Há um corpo na porta principal. Samantha, eu preciso de uma permissão para entrar"

  Samantha levou um momento para responder.

  "Ok, entendido".

  No rádio, Anton confirmou visual no corpo estendido. Os agentes mais próximos da mansão ficaram a postos.

  "Vamos entrar, então?", falou Finnegan.

  "Você não entraria?"

  "Eu espiaria lá dentro, antes. O cara parece ter morrido fugindo de alguma coisa lá dentro. E eu entraria com o resto do time. Não mandaria eles sozinhos."

  George manteve o silêncio. Aguardaram.

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