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Floresta assustador

IX

    Samuel não conseguiu voltar a dormir. Cada tentativa de fechar os olhos era frustrada por um som diferente. Algo na cozinha. Passos na loja no andar de baixo. Vozes que poderiam ser o vento, sombras projetadas na parede.

    O Sol mal nascia quando ele se levantou e encheu uma mochila com algumas mudas de roupa e outros itens essenciais. Desceu e, sem pensar muito no que fazia, foi direto para a estação de trem mais próxima. Não encontrou passagens para Bishopstone: o lugar não tinha estação. Ao invés disso comprou uma passagem para Brighton, que era a cidade mais próxima. Foi até um Starbucks e comprou um café. Usou o copo descartável para esquentar as mãos.

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    Na rua onde morava, a cidade ainda acordava. Uma placa rústica balançava contra o vento, as juntas de ferro rangendo sobre a porta da sua loja de antiguidades. Na madeira, o nome talhado balançava: Orbuculum.  Enquanto esperava a condução chegar, Samuel lembrou-se do seu primeiro encontro com Isaac há dois anos, quando o jovem entrou na loja e fez soar o sino. O garoto imediatamente se enamorou da bola de cristal que descansava sobre uma almofada em um canto da loja há gerações. Era o item mais caro e mais chamativo do lugar, e ele a comprou no primeiro dia em que pôs os pés ali. Disse que sentia uma energia benigna que emanava da esfera. Seguiu-se uma longa conversa. Isaac Danpora sabia de tantas coisas sobre misticismo que até mesmo Samuel, considerando-se um especialista no ramo, ficou assombrado. A amizade entre os dois floresceu fácil.

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   E agora, ele ia para o seu enterro. Sentiu o coração apertar. Bebeu um pouco mais de café.

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    Na vitrine da loja, longe dali, as bonecas de porcelana assistiam os transeuntes na rua. Na maçaneta da porta, uma placa: "fechado"

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