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Floresta assustador

XII

    A espera pelo retorno da permissão foi um desafio de autocontrole. Os agentes permaneceram embrenhados na mata em silêncio, aguardando o retorno da voz de Samantha no rádio. Os pássaros sentiram-se corajosos o suficiente para retornarem aos seus postos sobre os galhos das árvores, e agora cantavam como se os instigassem a prosseguir.

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    "Temos permissão com restrição de não-engajamento", falou a voz de Samantha, misturada à estática. "Duas unidades de reforço estão a caminho"

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    "Vocês a ouviram", falou George. "Sem engajamento. Recuem ao primeiro sinal de armas de fogo. Nick, Scott, entrem pelos fundos e nos alcancem na entrada principal"

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    "Há muitas janelas aqui, George", respondeu Scott no rádio. "E o jardim é muito amplo. Seremos alvos fáceis."

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    "Então circulem a casa e nos encontrem no portão principal. Eu e Finn vamos entrar com vocês."

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    Finnegan sorriu. Levaram quinze minutos para reunirem-se em um local próximo ao portão principal, ainda encobertos pela mata alta. Havia um número menor de janelas naquela face da mansão, e cobertura ampla para avançarem devagar, caso encontrassem problemas. Assim que se encontraram com a dupla que os esperava na entrada, Lucas os atualizou:

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    "Nenhum movimento. O portão principal está aberto"

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    "Aberto?"

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    "É mecânico, com retorno hidráulico", falou Finnegan, que analisou o portão com poucos segundos de observação. "Vê como as duas bandas não encostam uma na outra? Alguém forçou o portão, e o sistema hidráulico tentou fechá-lo novamente mas o mecanismo ficou comprometido"

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    Estavam prontos para entrar. Finnegan avançou primeiro e o grupo o seguiu em fila, com George na retaguarda. Antes de abrirem o portão, Finnegan pediu que o time o aguardasse. Seguiu sozinho até surgir no campo de visão da câmera de vigilância, e retornou. Aguardaram. Esperava que, se houvesse alguém monitorando o lugar, algo acontecesse. A mansão, porém, permaneceu em silêncio; um monolito cravado na montanha, indiferente ao mundo.

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    Finnegan seguiu agachado. Forçou o portão, que cedeu com facilidade, e avançou até a guarita. A porta estava aberta. O lugar era pequeno, com espaço para apenas dois vigias. Sobre a mesa havia um maço de cigarros aberto, um cinzeiro com cinzas de dias atrás, e um copo descartável de café, que ainda continha um pouco da bebida no fundo. Finnegan acionou o mecanismo de abertura do portão, abrindo caminho para o resto do time.

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    Seguiram agachados, em linha reta, procurando posicionar-se atrás da fonte de água que enfeitava a entrada da mansão. Ladearam os carros estacionados por todo o percurso. Mantinham os olhos nas janelas. Alcançaram o chafariz, que era tão grandioso que servia de cobertura para os seis agentes. A porta principal estava muito  próxima agora. Podiam ver o corpo morto projetando-se para fora, como um aviso para que não se aproximassem. a poucos passos da porta, a brisa trouxe até eles o cheiro acre de carne em decomposição, e o som das moscas.

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    Finnegan agachou-se ao lado do corpo. O rigor mortis o havia transformado em uma estátua congelada em um grito de horror. Uma espuma avermelhada fugia da boca do defunto, os olhos arregalados o encaravam. De alguma forma a roupa de gala mantivera-se praticamente intacta em seu corpo: o terno preto, a camisa branca e a gravata vermelha escondiam boa parte da decomposição de quem os vestia.

    Finnegan achou que conhecia o homem. Encontrou sua carteira no bolso interno, e confirmou a sua suspeita.

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    "É Arthur McGrimmon", falou no rádio.

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    "Sir Arthur McGrimmon?"

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    "Sim. Ele mesmo."

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    Sir Arthur era uma figura proeminente na política inglesa e nome importante no parlamento. De todas as coisas que esperavam encontrar naquele dia, conexões entre os Filhos do Ancestral e o Parlamento Britânico não estavam entre elas - quanto mais o cadáver de uma figura pública daquele porte.

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    "Puta merda", disse Anton. O agente havia espiado para dentro do saguão principal e agora se afastava do grupo para vomitar. Scott arriscou abrir um pouco mais da porta. Arregalou os olhos.

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    "Jesus Maria José..."

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    George foi em seu encalço. Com um empurrão, escancarou a porta. Diante deles, desenrolou-se a visão do inferno.

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